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2020, o ano que já acabou?

Para o brasileiro, 2019 foi aquele tapa na cara. Nem sei quantas vezes chorei vendo as notícias. Perdemos os meninos do Ninho do Urubu e os do massacre da escola em Suzano (SP). Teve Brumadinho (MG) soterrada em lama.

Se formos levar para o lado do turismo no Brasil e no mundo, também houve momentos que a gente não imaginava. Vimos a Catedral de Notre-Dame, Paris, ser consumida pelo fogo. Boa parte das praias do nordeste brasileiro ficou coberta por óleo e a Amazônia teve mais queimadas do que costumava ter.

O Brasil e o jornalismo também perdeu grandes nomes como Ricardo Boechat, Clóvis Rossi, Juarez Soares e Paulo Hernique Amorim. Como profissional da área, essas mortes me afetaram diretamente.

A cultura e o entretenimento também perderam e muito. Dentre os muitos que nos deixaram, para mim, o mais difícil foi me despedir de Jorge Fernando e Fernanda Abreu. Ainda mais a Fernanda, um ícone de mulher profissional para mim.

2019 foi aquele ano que nos fez pensar na música do Renato Russo que diz que “os bons morrem jovens”. E o próprio Renato poderia ter ficado por aqui mais tempo conosco.

Claro que na vida privada cada um teve vitórias e perdas, como de costume. Pessoalmente, tive um ano profissional muito bom. Por outro lado, fiquei doente, passeio por cirurgia e tive medo de ir encontrar mais cedo todo esse pessoal que morreu e eu adorava.

Por 2019 ter sido um ano coletivamente tão difícil e por ter tido essas dificuldades pessoais, eu realmente queria que ele acabasse. Acredita que 2020 seria infinitamente melhor, aquela besteira do ser humano achar que com o ano novo tudo será novo.

Apesar do Brasil atravessar um período obscuro e de extrema ignorância, isso já era esperado por mim. Então, não estava tão preocupada. Por aqui, sem grandes tragédias, surge um vírus na China, mas a gente aqui do ocidente não pensava muito que isso podia nos atingir.

Os três primeiros meses do ano passaram e eu estava cheia de planos e projetos, com 2020 ainda começando. Acho que muita gente estava assim. As coisas dando certo em alguns setores.

E, então, chegou o coronavírus. A doença que está fazendo o mundo inteiro parar, algo que quem nasceu na década de 80 nunca viu.

Como é tudo muito novo, na sexta-feira passada de manhã eu era uma pessoa cheia de planos e projetos até julho, já seguindo com um ensaio sobre como seria meu segundo semestre.

E, se 2019 foi um tapa na cara, veio 2020 e nos deu a maior rasteira das últimas décadas. Eu que escrevo sobre turismo fiquei sem chão e sem viagem.

Toda minha agenda foi cancelada até o fim de abril. Receio que algumas viagens marcadas para maio e junho talvez não aconteçam.

Meu marido me disse esses dias: acho que você só viaja a trabalho em setembro agora. Na hora eu achei essa ideia completamente impossível. Hoje, acho que, em um cenário muito ruim pode ser verdade. Então me dei conta que em setembro o ano, basicamente, acabou.,

Bom, se levarmos em conta a máxima que o ano no Brasil só começa depois do Carnaval e nosso primeiro caso de Covid-19 aconteceu logo depois da folia, o ano nem começou e já acabou.

A pandemia pode até acabar em breve, mas os economistas estão prevendo que os reflexos dela vão nos acompanhar por muitos meses. Eu penso em quantas empresas vão fechar, quantas pessoas vão perder o emprego e como todas as áreas vão sofrer, incluindo o turismo.

Eu fico aqui com pena também de quem planejou uma viagem, sonhou, pagou e, agora, vai ter que adiar seu sonho. Talvez o destino que escolheu demore ainda um bom tempo para se recuperar, nada será como antes.

Com o dólar e euro nas alturas, para o brasileiro será bem difícil viajar para o exterior se a economia continuar assim. Se Paulo Guedes estava preocupado com as empregadas domésticas brasileiras invadindo a Disney, agora pode ficar sossegado.

Depois que a pandemia passar, ainda vamos enfrentar companhias aéreas e redes hoteleiras endividadas. Me pergunto também como ficarão os voos depois disso. Companhia irão cancelar definitivamente alguns voos para o Brasil? Provável.

O setor de cruzeiros marítimos também está com um prejuízo que eu nem consigo imaginar agora. Será que conseguirão manter as rotas já programadas para o segundo semestre e começo de 2021? Espero que sim, mas não consigo acreditar.

Vendo toda a movimentação da última semana e com especialistas dizendo que tudo ainda pode piorar, incluindo a economia, fico com a triste previsão que as coisas só vão retomar seu rumo lá para setembro mesmo.

Com as notícias dos últimos dias, fico com a sensação de que o turismo vai trabalhar só para pagar as contas e olhe lá. E , tudo isso, só me leva a questionar o mesmo todos os dias: Será que 2020 é o ano que já acabou em março?