Viagem à estratosfera

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1 de abril 2017

Índia, Butão, Islândia, Antártica, Tunísia e Madagascar são alguns destinos que estão na lista dos já visitados pela paulistana Dina Barile. Ao todo, ela conhece 127 países. Mas ter passado por mais da metade das nações da Terra não é suficiente para Dina. “Meu sonho é viajar pelo espaço”, conta ela.

Filha de humildes imigrantes italianos, Dina começou a trabalhar desde cedo. Aos 21 anos já era funcionária do extinto Banespa e estava cursava Bacharelado em Estatística na Universidade de São Paulo (USP). Depois, se formou em Ciências Atuariais na Pontifica Universidade Católica (PUC).  Trabalhou 30 anos no mesmo banco, até se aposentar. Acostumada a ter uma vida simples, Dina relata que nunca foi consumista, ajudava a família, guardava parte de seu dinheiro e usava um pouco para viajar, tudo sempre sem luxos.

Dina criou um hábito: viajava um ano para o Brasil e, no outro, para o exterior. Quando se aposentou, tinha dinheiro guardado e continuou sustentando suas viagens. Assim, conheceu quase todo o Brasil e foi para o exterior mais de 400 vezes. Aposentada, abriu um site de notícias, o Spot Life (www.spotlife.com.br), que, dentre outros temas, também aborda o turismo, sua grande paixão.

Além da Terra

Nos últimos anos, o turismo espacial, que seria para viagens de grupos de turistas so espaço, começou a virar manchete. Empresas como Virgin Galactic e Blue Origin passaram a prometer esse tipo de roteiro. A Virgin, por exemplo, teria voos para até seis pessoas que ultrapassariam 100 quilômetros de altitude por US$ 250 mil por passageiro. Em 2014, durante um teste, uma nave da empresa explodiu e causou a morte do copiloto. Desde então, nem Virgin Galactic nem suas concorrentes começaram suas prometidas odisséias comerciais.

Dina passou a sonhar com essas viagens, mas o valor a desencorajava. Além disso, não havia uma previsão certa para quando começariam de fato. Foi em uma palestra do astronauta brasileiro Marcos Pontes que ela viu seu sonho começar a chegar perto da realidade. O profissional também é proprietário da Agência Marcos Pontes, e falava de voos com gravidade zero e de ver a Terra do espaço.

O ano era 2015 e Dina estava com 59 anos. Pesquisou e decidiu fazer a viagem à estratosfera, quase na barreia com o espaço sideral. Para completar, também embarcaria em um voo de gravidade zero. A agência de Marcos Pontes faz voos até a estratosfera com um Fulcrum MIG-29, um caça, a partir de uma base russa.

Preparativos e valores

O valor do sonho de Dina tinha um preço. Para fazer o voo até a estratosfera, ela pagou US$ 21 mil e, o de gravidade zero, US$ 7 mil. Ela teria que ir para a Rússia e pegou passagens com milhas. Despesas como hotel, guia e refeições estavam inclusas nos valores cobrados.

Para as aventuras, é pedido que o passageiro esteja em boas condições físicas. Por isso, Dina teve que passar em uma médica indicada pela agência Marcos Pontes. A consulta custou mais R$ 2.700, vários exames foram pedidos, Dina teve que comprar mais R$ 3.000 em vitaminas e fazer exercícios por meses. Depois disso tudo, recebeu uma autorização para as viagens.

Viagem à estratosfera

Após muito preparo, em novembro de 2015, Dina foi realizar seu sonho. Na base de Sokol, na Rússia, embarcou no Fulcrum MIG-29. Antes disso, uma médica a examinou. “Minha pressão estava alta, tive um problema com o taxista que me levou até o local e fiquei nervosa, quase não me deixaram entrar no caça”, relata ela.

Embarcada, a aventura começou, ela conta que foi muito rápido, quando percebeu, já estava a uma altitude de quase 17 mil quilômetros. “Por três minutos, consegui ver a curvatura da Terra”, explica.

Na descida, o piloto perguntou a Dina se podia fazer algumas manobras de radicais, ela consentiu. O avião superou a velocidade do som, que é de 1224 Km/h, e chegou a 1840km/h. O corpo de Dina sofreu uma força de 7G (sete vezes o peso dela). A paulistana poderia, segundo recomendações médicas, ser submetidas a uma força de, no máximo, 4G. Ela acabou passando mal, vomitou no saquinho que a empresa oferece. Fora isso, ficou muito feliz. “Quando vi o quão longe estava, a vista tão diferente, chorei, era um sonho realizado”, diz.

Gravidade zero

No dia seguinte do passeio com o Mig-29, Dina embarcou em mais uma aventura inusitada, especial para quem quer flutuar em gravidade zero. Em Moscou, ela fez um voos parabólico, realizado em aviões laboratoriais de microgravidade. Ao invés de poltronas, nessas aeronaves, há paredes acolchoadas.

Com um grupo de turistas russos, só ela de passageira mulher, Dina foi sentir como era estar em gravidade zero. “O voo tem muitos funcionários que auxiliam os clientes todo o tempo”, explica. O passeio todo dura uma hora, mas a mudança de gravidade ocorre apenas por uns minutos.

Dina adorou flutuar. “No começo é difícil, passei mal, um passageiro esbarra no outro sem querer, mas é divertido”, conta a paulistana. A única decepção de Dina é que quando ela estava começando a se acostumar com os movimentos, a gravidade volta ao normal. “Queria mais”, diz ela, já planejando se um dia vai passar por experiência semelhante outra vez.

Aos 61 anos, o grande sonho mesmo de Dina é ver a Terra ao longe, bem azul, algo como se estivesse na Lua. Mas, parece que, se depender das empresas de turismo espacial e do preço, ainda vai demorar um pouco para a paulistana conquistar mais essa realização.

Serviço

Quem levou: Agência Marcos Pontes
Site: http://www.agenciamarcospontes.com.br
Valores: sob consulta, os preços podem flutuar

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