É mesmo um resort?

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11 de setembro 2014

Quando você pensa em viajar e ficar em um resort, qual o primeiro pensamento que passa na sua cabeça? Lazer, conforto e descanso? A gerente comercial Priscila da Trindade Reis Costa respondeu as questões: “Resort me faz pensar em um local que tem tudo. Seja conforto, comida, limpeza, serviços e opções de lazer, tudo que preciso à disposição.”

Porém, não foi esse o cenário que Priscila encontrou ao se hospedar em um hotel que levava “resort” no nome em Cabo de Santo Agostinho (PE). Saindo de São Paulo, sua cidade natal, a gerente comercial foi passar seis noites a trabalho no hotel. Para ela, aquele meio de hospedagem nunca poderia ser classificado como resort. “Foi uma escolha da empresa, que sempre se preocupava em oferecer acomodações quatro ou cinco estrelas. Mas no hotel em questão as condições da comida eram péssimas, a limpeza deixava muito a desejar, as opções de lazer eram limitadas, as toalhas não eram trocadas e tive que mudar de quarto porque havia muitas formigas no primeiro”, explica ela.

A decepção também veio para a jornalista Fernanda Lopes, ela esperava muito conforto e uma alimentação diversificada e de boa qualidade quando se hospedou em um resort de Olímpia, interior de São Paulo, há quatro anos. Mas não foi isso que encontrou.

A jornalista de Santos (SP) ficou surpresa de modo negativo. “Achei a comida ruim e limitada, bem distante do que acredito ser o conceito de resort”, explica ela. Mas, saber exatamente o que é conceito de resort e o que determina que um meio de hospedagem receba essa classificação é algo muito amplo, ainda, pelo menos no Brasil. Na prática, hoje em dia qualquer empreendimento coloca resort no nome, o cliente vê e já imagina, assim como Priscila e Fernanda mencionaram, que irá se hospedar em um hotel de muito conforto e bons serviços.

E, como o hóspede pode ter certeza que irá para um resort e que pagará um valor que coincide com a qualidade da hospedagem e serviços que irá receber? O Viajar é Simples apurou que, da parte do governo, o Ministério do Turismo engatinha para classificar os hotéis no Brasil, incluindo os que devem usar o termo resort. Por outro lado, a Associação Resort Brasil há 13 anos reúne hotéis que passaram em sua inspeção detalhada.

Ao longo desse texto, você irá encontrar o que cada uma das instituições mencionadas entende como resort e quais as avaliações feitas para a classificação dos hotéis. Olhar os critérios delas é uma boa saída para encontrar um resort de fato para se hospedar e não em um hotel que tenha resort só no preço e no nome.

O Sistema Brasileiro de Classificação de Hospedagem

Em 2010 o Ministério do Turismo começou a inspecionar meios de hospedagem do Brasil para defini-los como tendo de uma a cinco estrelas e se podiam ser classificados como hotel fazenda, resort, hotel histórico, pousada, dentre outros. Atualmente, quase 60 empreendimentos de todo o Brasil passaram na avaliação do chamado Sistema Brasileiro de Classificação de Hospedagem, o SBClass.

Segundo a determinação do SBClass, resort é um termo que deve ser usado em hotéis com infraestrutura de lazer e entretenimento que disponha de serviços de estética, atividades físicas, recreação e convívio com a natureza no próprio empreendimento. Eles podem ser de quatro ou cinco estrelas. Se formos analisar o resort no qual a jornalista Fernanda de hospedou, que na época só tinha um restaurante e pouca variedade de comida, ele já não poderia ser classificado como resort pelo SBClass. Um dos pré-requisitos para ser um resort, pelo menos quatro estrelas, é ter, no mínimo, dois restaurantes e cardápios diferentes neles.

O Serhs Natal Grand Hotel, localizado na capital do Rio Grande do Norte, nem usa resort no nome mas foi classificado como tal pelo SBClass e ainda ganhou cinco estrelas. Com uma grande infraestrutura e “pé na areia”, o hotel foi classificado oficialmente resort em dezembro de 2013.

Segundo o supervisor de operações do Serhs Natal Grand Hotel, Fabrício Revoredo, todo o processo para classificação demorou menos de um ano. “Nós já nos considerávamos um resort cinco estrelas, mas queríamos a certificação do SBClass porque poucos no Brasil possuem até agora”. Para conseguir, o hotel passou por um pequeno ajuste. “Iniciamos o processo em abril de 2013, analisando a matriz de classificação e fazendo as adequações necessárias até a vistoria final realizada em novembro do mesmo ano. Cerca de 20 dias depois, já em dezembro, recebemos o certificado oficial”, conta Revoredo.

Além do Serhs Natal, há apenas mais três hotéis no Brasil que são classificados como resort cinco estrelas pelo SBClass, são eles: Vila Galé Mares, em Monte Gordo (BA); Vila Galé Cumbuco, em Caucaia (CE) e Tropical Manaus, Manaus (AM). Como resort quatro estrelas, o SBClass classificou o Tauá Hotel e Convention de Caeté (MG). Nenhum deles leva resort no nome oficial, perceberam?

Estar em um hotel classificado pelo Ministério do Turismo é ter a certeza de que aquele meio de hospedagem passou por uma inspeção e cobra um valor de acordo com seus serviços, que também tem uma diária máxima especificada por tabela do SBClass. A lista completa de hotéis classificados está no seguinte aqui.  Mas como tem muito hotel no Brasil que ainda não recebeu sua classificação, neste link tem todos os itens que um hotel precisa ter para ser considerado resort segundo o SBClass, você pode dar uma conferida nesses itens antes de fazer sua reserva e ver se o empreendimento em questão irá oferecê-los.

O certificado Resorts Brasil

Há 13 anos existe no país a Associação Resorts Brasil. Ela surgiu da iniciativa de hotéis renomados que se uniram para identificar, avaliar e discutir a situação deste segmento do turismo nacional. Hoje a Associação Brasileira de Resorts conta em seu quadro associativo com 47 resorts.

E, para a associação, o que é um resort? “É, basicamente, um hotel com muita recreação, natureza, que possibilita o convívio da família e atividades para todos os membros, além de muito lazer e entretenimento”, responde Daniel Guijarro, presidente da Resorts Brasil. Porém, segundo ele, muito hotel acha que é um resort, coloca o termo em seu nome oficial, se vende e cobra como tal mas nunca passou por nenhum tipo de avalição externa.

Guijarro explica que para ser um associado da Resorts Brasil e receber um selo que é uma identificação de qualidade para o hóspede, o hotel precisa manifestar sua intenção, preencher uma ficha determinada pela Resort Brasil e passar por um crivo profissional. “Ele é avaliado por um auditor independente, que não é ligado à associação e nem ao hotel”, adiciona o presidente.

Se aprovado, ou seja, tiver todos os itens de conforto, infraestrutura, lazer e serviços que a Resorts Brasil determina, ele recebe o selo e passa a fazer parte da associação. O reportagem do Viajar é Simples ficou em um hotel que se intitulo “resort” em Brotas, interior de São Paulo, e o meio de hospedagem não aceitava pagamento com cartão de débito nem de crédito. Ao relatar o fato para Guijarro, ele é incisivo: “só por esse fator ele já não poderia fazer parte da Resorts Brasil”.

A advogada paulistana Jacqueline Barbosa, há pouco mais de um ano, se hospedou no Iguassu Resort, da rede GJP, em uma viagem de férias. “Achei o hotel muito confortável, bonito, com boas opções de lazer e gastronomia”, conta ela. Segundo Jacqueline, ela nem esperava que o hotel fosse tão bom quanto comprovou ser após uma semana no local, não tinha nem olhado se ele tinha algum selo ou certificado, mas desde julho de 2012 o empreendimento é um integrante da Resorts Brasil.

Guilherme Paulus, presidente da GJP Hotel & Resorts, explica que o hotel foi adquirido pela rede em 2009 e diversas melhorias foram feitas desde então. “Fazer parte da Resorts Brasil significa aumentar a competitividade do Iguassu Resort, podendo comparar seu desempenho com o setor como um todo e ganhar maior exposição nacional com custos compartilhados”, explica Paulus.

O resort em questão tem três restaurantes, sendo que dois deles abrem em dias alternados, uma piscina principal e diversas outras espalhadas entre os blocos de apartamentos e um campo de golfe com 18 buracos, fatores que contribuíram para sua admissão na Resorts Brasil. Ele é um dos exemplo dos quase cinqüenta hotéis que integram a associação ao redor do país e, como vimos no caso da Jacqueline, que podem reservar boas surpresas para os hóspedes ao invés de decepções, como nas histórias de Priscila e Fernanda.

No site da Resorts Brasil há todos os hotéis associados e, antes de viajar, os turistas também podem fazer sua pesquisa nele e ver se irá ficar  em um empreendimento que passou pela aprovação da associação.

Apesar de não classificarem todos os hotéis do país, o que é um trabalho da Ministério do Turismo que ainda está só no início, o SBClass e a Resorts Brasil são duas armas que o turista tem para não ser enganado por um hotel qualquer que se faz passar por resort.

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